Ressurreição ✨Aleluia Aleluia.✨

Esta foto tem tudo o que eu preciso.

Tem uma mulher “mal vista” no seu tempo.

Sempre houveram mulheres mal vistas, por serem irreverentes e muito fora da caixa.

Tem o salto, tem a liga, tem o livro, tem o cigarro, tem a mini saia, tem o ingrediente principal “pro raio que te parta” que eu vou fazer o que me der na cabeça. Numa época de gola alta e saia a rastejar no chão de preferência.

No seu tempo seguramente na boca do povo (maioritariamente mulheres) uma mulher da vida, para ela apenas ela sendo ela. Saindo do status quo e talvez ensinando outras a libertarem-se. Talvez a mostrar que existe outra realidade para além de bajular uma comunidade, ou servir uma sociedade bem defenida por um grupo de beatas de brandos costumes. Boas para casar e ainda melhor para serem encornadas.

Existe vida para além do avental a servir. Acho bem cuidar, acho mesmo mas também acho bem logo a seguir ser cuidada e notada ser proporcionalmente exigível.

Ontem ouvi a entrevista da Eunice que partiu, uma mulher também ela diferente. Quem tem alma de artista, de criar, de deixar um registo será sempre mal vista por muitos e amada por outros tantos. Imaginei-a no início de carreira,
imaginei as línguas viperinas. Sorri quando ouvi 3 casamentos, sorri ainda mais quando falou em intensidade, invejei a paz quando disse que adorava estar sozinha sem necessidade de ser notada. E ainda fiquei mais rendida no dia que as folhas voaram a saída do comboio e ninguém as apanhou.

Nunca haverá consenso por muito bem feito que faças o cabrito hoje e por muito maravilhoso que esteja o teu pão de ló. Se o foste comprar não sei se te posso dar uma medalha da Páscoa.

Lembro-me de uma vez ter me tentado encaixar numa família e ter feito um pão de ló e no almoço uma das minhas cunhadas dizer numa mesa de 20,

- está seco! 💣

Uma amiga agora faz 20 anos (e hoje uma das minhas melhores amigas) fruto dessa família respondeu por mim e em minha defesa

- cospe que vai já ficar molhado.

Temo pelas pessoas que respeitam na íntegra as tradições. Que irão a missa, apenas pavonearem-se, quando passam o ano a escrutinar a vida de todos e a fazer poções de maldizer em casa sobre a vida dos outros.

Hoje apetece-me ser rebelde não vou fazer cabrito. Ele está a 40 Eur e pensei porque não se pode fazer um arroz de costelinhas, em vinha d’alho? Não vou comer o pudim apetece-me quindim. E quem quiser outra coisa que o faça, porque quem faz pode decidir.

Quem parte e reparte e não escolher a melhor parte da vida ou é tolo ou não tem arte. E não, não pensem que não penso na minha filha e marido e que sou uma egoista, mas a nota que quero deixar é não tem mal sermos lembradas e apreciadas e deve ser normal, às vezes termos o melhor pedaço, às vezes abanem as estruturas e mostrem que sem vocês o caos existe.

Faz isto, faz aquilo, porque as datas te obrigam a respeitar uma normalidade que pode não caber na tua ou no teu bolso.

A mim só me apetece ser Eu e ser respeitada exactamente como sou, cheia de defeitos e com poucas virtudes. Ou para alguns exactamente o contrário. Tão fácil passar de bestial a besta e o inverso também é verdadeiro. Portanto vive com as tuas cores. Questiona-te, questionar-te é o primeiro passo e não te sintas mal com isso.

Ontem fui rebelde não porque não podia comprar o cabrito mas porque me chateou entrar na panelinha de aceitar a normalidade da Páscoa.

Portanto para além da ressurreição do Nosso senhor Jesus Cristo se encontrares a tua também não te fará mal nenhum.

Lembra-te sempre de por pimenta na tua língua sempre que fores julgar ou criticar alguém, não andas nos sapatos daquela mulher e não sabes nada das suas lutas. As mulheres têm sido as piores inimigas umas das outras e acredito piamente que se fizéssemos o exercio de julgarmos menos e deitar abaixo as que fazem diferente há muito que os homens não diriam que parecemos galinhas quando discutimos.

Posto isto, Boa Páscoa suas malvadonas.

Iremos ou Oremos ? Irei…..
Anabela Pinto
La Portuguese